segunda-feira, 22 de abril de 2013
domingo, 21 de abril de 2013
O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E AS INDULGÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O presente trabalho fala do sacramento da Penitência e as Indulgências. O seu objectivo é de
compreender como o sacramento da Penitência se relaciona com a doutrina das
Indulgências praticada na Igreja há vários séculos. Para uma boa compreenção,
começaremos por definir os conceitos de Penitência e da Indulgência, abordaremos
em seguida a origem das indulgências, os tipos de Indulgências, a relação que
há entre as indulgências e a Penitência.
1. DEFINIÇÃO DOS TERMOS
1.1.Penitência
Penitência “do latim penitentia e
do grego metania significa mudança de
mentalidade, de espírito, reflexão, arrependimento, qual conversão do coração”[1]
É um sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para apagar os pecados
cometidos depois do Baptismo. É, por conseguinte, o sacramento de nossa cura
espiritual, chamado também sacramento da conversão, pois, realiza
sacramentalmente nosso retorno aos braços do Pai depois de nos afastarmos com o
pecado. Também a penitência consagra uma caminhada
pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação por parte do
cristão pecador[2].
1.
2. Indulgência
A indulgência é a remissão,
diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à
culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas,
pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e
aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de
Cristo e dos santos[3].
A Igreja Católica na sua doutrina sobre a indulgência ensina que se obtém de
Deus mediante a Igreja, que, em virtude do poder de ligar e desligar que Cristo
Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o tesouro dos
méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai as misericórdias a remissão
das penas temporais devidas a seus pecados. Assim, a Igreja não só vem em
auxílio do cristão, mas também o incita às obras de piedade, de penitência e de
caridade[4].
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, para enteder esta doutrina e
prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla consequência: a
de nos privar da comunhão com Deus e, a de nos tornar incapazes da vida eterna.
Estar privado na comunhão com Deus equivale a estar numa "pena
eterna" do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um
apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer
depois da morte, no estado chamado "purgatório". Esta purificação
liberta a chamada "pena temporal" do pecado. Essas duas penas não
devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do
exterior, mas, antes, como uma conseqüência da própria natureza do pecado. Uma
conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação
do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena[5].
2.
ORIGEM
E FINALIDADE DAS INDULGÊNCIAS
O uso das indulgências teve sua origem já nos primórdios da Igreja. Desde
os primeiros tempos ela usou o seu poder de remir a pena temporal dos
pecadores. Sabemos que na Igreja antiga dos primeiros séculos, a absolvição dos
pecados só era dada aos penitentes que se acusassem dos próprios pecados e se
submetessem a uma pesada penitência pública. Por outra, aquele que blasfemasse contra
o nome de Deus, da Virgem Maria, ou dos santos, ficava na porta da igreja, sem
poder entrar.
Na fase das perseguições dos primeiros séculos, quando o número de mártires
era grande, muitos cristãos ficavam presos aguardando o dia da própria
execução. Surgiu nesta época um costume de recorrer à intercessão dos que
aguardavam presos a morte. Um deles escrevia uma carta ao bispo pedindo a
comutação da pesada penitência do pecador; eram as chamadas “cartas de paz”.
Com este documento entregue ao bispo, o penitente era absolvido da pesada
penitência pública que o confessor lhe impusera, e também da dívida para com
Deus; a pena temporal que a penitência satisfazia. Assim, transferia-se para o
pecador arrependido, o valor satisfatório dos sofrimentos do mártir.
Com o passar do tempo, e principalmente por causa da “questão das indulgências”
no tempo de Martinho Lutero, no século XVI, as indulgências foram ofuscadas e
tornaram-se objecto de críticas. Pois, os pregadores das indulgências diziam
que «uma alma sobe ao céu quando a moeda tilinta no fundo da caixa de esmola»[6].
Assim, Lutero “discordou publicamente da prática e venda de indulgências
sobretudo pelo Leão X (1513-1521), que tinha o intuito de terminar a construção
da Basílica de São Pedro”[7].
Rejeitou também a falsa segurança que as indulgências dão. Porque para ele, «o
cristão não pode comprar a graça»[8].
No entanto, após o Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI reafirmou todo o seu
valor, na Constituição Apostólica Indulgentiarum
Doctrina, onde quis claramente mostrar o sentido profundo e teológico das
indulgências; incitando os católicos ao espírito de contrição e penitência que
deve movê-los ao realizar as obras indulgenciadas, removendo toda a aparência
de mecanicismo espiritual que no passado aconteceu.
3.
TIPOS
DE INDULGÊNCIAS
Há
dois tipos de indulgências: a parcial e a
plenária. A sua diferença reside no facto de como elas libertam o pecador do
pecado, passado a designar-se de plenária se liberta o pecador de modo pleno. E
parcial se o liberta de maneira temporária.
3.1 Indulgência plenária
A Indulgência plenária redime totalmente a pena que a
pessoa teria que cumprir no purgatório. Ela é totalmente eficaz e definitiva
para as pessoas mortas. Pois, consiste no cumprimento das obras para que o
morto esteja liberto de todo o tempo do seu purgatório. A plenária pode
ser lucrada àquele que adorar o Santíssimo Sacramento durante meia hora pelo
menos, recitar o terço na Igreja, oratório, em família, comunidade religiosa ou
em uma associação piedosa. Exercício da Via-sacra, perante as estações
legitimamente erigidas.
3.2. A Indulgência parcial
A indulgência parcial redime só em
partes. Pode ser alcançada àquele que recita o terço em
particular, do Credo, do Magnificat, do Salmo 50, o ensino ou aprendizagem da
doutrina cristã, a Comunhão espiritual, a leitura da Sagrada Escritura como
alimento espiritual ao menos de meia hora.
4.
RELAÇÃO
ENTRE A PENITÊNCIA E AS INDULGÊNCIAS
Para
compreender a relação existente entre o Sacramento da Penitência e as práticas
das indulgências é preciso conhecer os efeitos do Sacramento da Penitência. Pois,
as práticas das indulgências «estão estreitamente ligadas com eles»[9].
Portanto, os efeitos da penitência são: «a reconciliação com Deus, pela qual o
penitente recupera a graça; a reconciliação com a Igreja; a remissão da pena
eterna em que incorreu pelos pecados mortais; a remissão das penas temporais,
consequências do pecado; o acréscimo das forças espirituais para o combate
cristão»[10].
Assim
sendo, para um cristão ganhar indulgências para si ou para o outro, são
necessárias as seguintes condições: a Confissão onde obtém o perdão dos pecados
cometidos; a realização da obra prescrita (visita de uma igreja, oração e
mortificações) com todo desapego do pecado e máximo amor a Deus; o estado de
graças ao realizar tal obra; Comunhão eucarística e as intenções do Santo
Padre, que são satisfeitas por intermédio da reza de um Pai-nosso ou então, uma
Ave-Maria. Mediante os efeitos do Sacramento da Penitência e os requisitos para
a obtenção das indulgências, se pode afirmar que há uma estreita união entre Penitência
e as indulgências. Daí que não se pode falar de indulgências sem o Sacramento da
Penitência. Pois, elas têm o seu efeito eficaz a partir da união com este
sacramento. Assim, podemos dizer que a relação existente entre elas é de
unidade, ou seja, as práticas das indulgências estão unidas ao Sacramento da
Penitência.
Notemos
que ninguém pode ganhar indulgências sem que tenha anteriormente confessado as
suas faltas e tenha recebido o perdão das mesmas, pois, as indulgências não têm
em vista apagar os pecados, mas contribuir, mediante a participação de um
grande acto de amor, para eliminar as consequências do pecado. Porém, «a
verdadeira conversão se completa pela satisfação das culpas, pela mudança de
vida e pela reparação do dano causado»[11].
Nesta
óptica, «o espírito interpretativo da indulgência de um modo geral, é de fazer
aos fiéis que sofram com máximo amor a Deus e desapego do pecado»[12].
Daí que o trabalho, o serviço ao próximo e o sofrimento aceitos em união com
Cristo sejam indulgenciados, mas ligados com o sacramento da Penitência.
BIBLIOGRAFIA
ALVADOR, Carlos C.S e EMBIL, José M. U., Dicionário de Direito Canónico, Edições Loyola, São Paulo, 1993.
BIGOTTE,
J. Q., Indulgências, Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, Ed. Séc.XXI,
Editor Verbo, Lisboa 2000.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, Gráfica de Coimbra 1993.
ESTEVES,
J. F. C., CORDEIRO, J. M. G., Liturgia da
igreja, Universidade Católica Editora, Lisboa 2008.
PORTO,
Hugo S., Dicionário Enciclopédico das
Religiões, Edições Vozes, Petrópolis 1995.
Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira, Lisboa 1945.
Paulo VI,
Constituição Apostólica, Doutrina das
Indulgências, Roma 1967.
[1] J.
F. C. ESTEVES, J. M. G. CORDEIRO, Liturgia
da igreja, Universidade Católica Editora, Lisboa 2008, p. 134.
[2]Cfr, Catecismo da Igreja católica, Gráfica
de Coimbra 1993, 1423.
[5]Cfr, Catecismo da Igreja católica, Gráfica
de Coimbra 1993, 1472.
[6]Cfr,
J. COMBY, Para ler a Historia de Igreja 2,
Editora Perpétua Socorro, Porto 1989, p. 72.
[7]
Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira, Lisboa 1945, p. 648.
[8]Cfr, J. COMBY, Op., Cit, p. 72.
[9]Cfr, Catecismo da Igreja católica, Gráfica
de Coimbra 1993, 1471.
[10] Cfr, Ibidem, 1496.
[11]Locus citatus.
[12]PORTO,
S. Hugo, Dicionário Enciclopédico das
Religiões, Edições Vozes, Petrópolis 1995, p. 1374.
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