INTRODUÇÃO
O presente trabalho
reflecte sobre Quem é Deus. Ele se
fundamenta na obra de Jean-Claude Barreau. O seu objectivo geral consiste em analisar
e apresentar o Deus dos Evangelhos, e como Jesus Cristo nos revela. Quanto aos
objectivos específicos, ele pretende clarificar as várias concepções erróneas
que as pessoas têm sobre Deus. Comparar o Deus dos Evangelhos com as imagens
dos deuses que os homens criam. Aprofundar a Teologia Trinitária, sobretudo o
Deus Pai, a partir da revelação feita por Jesus Cristo que se encontra nos
Evangelhos. Compreender o Dom eterno do Pai revelado pelo Filho por meio do
Espírito Santo. Perceber a relação do amor Trinitário (Pai, Filho, e Espírito
Santo). E demostrar que as imagens de ”deus” criadas pelos homens são ídolos e
não Deus. Portanto, o tema em epígrafe, está dentro do curso da Teologia Dogmática
e Trinitária. Pois, quando não se compreende bem que em Deus se acredita, não
se é capaz de distinguir o verdadeiro Deus dos falsos deuses. Assim, percebendo
bem Quem é Deus, é possível falar melhor dele sem cair na idolatria. Por outro
lado, o tema é relevante porque vai ao encontro da questão do florescimento de
seitas do nosso tempo. Para uma boa compreensão o nosso trabalho está divido em
três capítulos. No 1º precisaremos Quem é Deus; no 2º apresentaremos as
dimensões do homem e no 3º e último dedicaremos uma atenção singular sobre o
Espírito Santo. Por fim apresentaremos uma conclusão geral e a bibliografia.
I. QUEM É DEUS
De um modo geral,
quando se fala de Deus, sempre há duas posições antagónicas: a dos que se
declaram e afirmam crer em Deus e a dos que recusam crer em Deus. Assim sendo,
se pode concluir que na esfera humana há crentes e ateus. No entanto, a questão
que surge é a seguinte: que Deus se crê, ou então, se recusa? Com base a esta
questão fundamental, iniciaremos a fazer uma precisão do termo Deus.
1.1. Precisão do termo Deus
O crer ou não
em Deus não constitui o grande problema sobre Quem é Deus. Pois, mesmo que o
sujeito afirme ou negue; acredite ou recuse em Deus, Ele continua sempre Deus.
Alias, a essência divina não aumenta nem diminui com as afirmações humanas.
Deus é Deus com ou sem as afirmações humanas. «Deus é Deus enquanto Deus» (BARREAU, 1972: 9). O grande problema
sobre o tema em epígrafe, reside na compreensão daquilo que o sujeito acredita
ou nega, ou seja, em que Deus acredita ou nega. A incompreensão sobre quem é
Deus é motivada pela ambiguidade do termo Deus. Para Barreau, «não há termo que seja mais ambíguo do que "Deus".
A afirmação ou negação deste termo é imprescindível saber o que se entende por
esta palavra» (Ibidem: 9).
Quando se está
diante de alguém que confessa ou negue acreditar em Deus, «a primeira atitude face a esta pessoa é questionar em que Deus acredita
ou nega. Pois, muitas das vezes, as pessoas de facto negam verdadeiramente de
um "deus" que não é Deus» (Ibidem). Porque na maioria das vezes,
as pessoas têm uma imagem de "deus" fruto das suas imaginações.
Entretanto, o "deus" fruto da imaginação pessoal não corresponde com
o verdadeiro Deus, Aquele que foi revelado por Jesus Cristo do qual os evangelhos
falam. «O "deus" fruto da
imaginação pessoal não é "deus" e nem é digno de ser acreditado, mas
sim, de ser demolido porque é um ídolo» (Ibidem). O verdadeiro Deus é O dos
evangelhos, do qual Jesus Cristo nos revelou. Este Deus dos evangelhos é que é
digno de ser adorado. Portanto, o verdadeiro Deus é o Deus de Amor (1Jo 4, 8).
1.1.1. Deus e os ídolos
A idolatria é
uma prática que desde a antiguidade e até aos dias de hoje acompanhou e
acompanha os homens. Diante deste facto, o cristão como homem religioso deve
saber distinguir os falsos deuses do verdadeiro. Deve saber também que «o estado, o partido, a pátria, o dinheiro, o
sexo e até a própria igreja, são meios dos quais é necessário servir-se para ir
ao encontro do Deus verdadeiro» (Ibidem: 13). Se estas realidades, no lugar
de serem meios, são concebidas como fins a servi-los, então, a pessoa que assim
o faz, é idólatra. Pois, ela está a divinizá-los. Nos parágrafos abaixo, estão
mencionados alguns tipos de falsos deuses e ídolos segundo Barreau.
1.1.2. O "deus" da magia
Maior número das
pessoas professa este "deus". «Nasce
das angústias e ilusões dos homens» (Ibidem). É um "deus" sem
fisionomia, portanto, «é uma coisa
ameaçadora, um poder vago que inquieta as pessoas e com ele é necessário fazer
certos contratos. Este "deus" é invocado nos momentos em que se
fraqueja. Ele serve de último recurso» (Ibidem). Para buscar reconciliação
com ele, é necessária a realização de ritos mágicos. A sua actuação é
automática desde que a disposição dos que cumprem os ritos seja boa. Porém, este
"deus" nasce do medo. E «o medo
degrada o homem» (Ibidem). E em última instância, «o medo é o sinal clínico de uma atitude religiosa mágica» (Ibidem: 14).
Face a isso, o cristão como homem religioso, não pode ser alguém que se curva
diante de um ídolo por causa do medo. Aliás, Cristo não criticou os Apóstolos
por não ter virtudes, mas por não ter fé (Mc 4, 40). Portanto, o que um cristão
precisa para vencer os seus medos é a fé. Pois, a fé liberta o homem dos seus
medos.
1.1.3. O Deus Omnipotente
Normalmente, quando
se fala de Deus todo-poderoso as pessoas imaginam em um «Deus ditador que tudo pode fazer e que é responsável de todo o mal»
(Ibidem: 18). Com base a este modo de pensar, aceita-se a ideia segundo a qual
«se Deus é todo-poderoso, Ele é o culpado
de todo o mal que existe no mundo, pois Ele poderia impedi-lo, mas não o faz»
(Ibidem). Este mal-entendido, muitas das vezes dá origem ao Ateismo Moderno. «Deus é todo-poderoso, porém, Ele não é
responsável pelo mal no mundo. Pois, o mal tem origem no coração do próprio
homem» (Ibidem: 45). Há tanto mal no mundo porque os homens não deixam
possibilidades para Deus actuar. «Deus
não age sem nós porque nos ama e mendiga nossa resposta sem desanimar e, muitas
das vezes esta resposta é negativa. Deus nos pede de O deixarmos agir e entrar»
(Ibidem: 46).
1.1. 4 "deus" utilidade
O
"deus" utilidade é um dos ídolos que um bom número das pessoas
recorre quando têm necessidades. Porque, acreditam que ele é o "deus"
dos exames, das batalhas, das satisfações pessoais. Os que recorrem a este
"deus", acreditam que ele é um "deus" que está sempre do
seu lado e contra os adversários. Ele é um "tapa-buracos", e se
recorre a ele quando se tem necessidade e deve ser sempre favorável aos que lhe
invocam.
1.1.5. O Deus bondoso
A respeito do
Deus bondoso há também um mal-entendido. Porque as pessoas se servem deste Deus
bondoso para justificarem a ordem moral. Na opinião de Barreau, a Igreja tende
a transmitir a moral do Deus bondoso, mais do que a fé no Deus do Evangelho.
Para ele, os que desejam receber os sacramentos de iniciação, são ensinados antes
da fé as virtudes morais, depois são paulatinamente introduzidos nas questões
da fé. Segundo ele, «o comportamento do
homem depende de suas convicções profundas de sua fé, depois estas convicções
transformam-se no seu agir» (Ibidem 22). Então, Barreau se questiona se os
cristãos são melhores que os outros? E ele constatou que na vivência quotidiana
do homem em geral, há homens com comportamento digno, mas que não são cristãos.
Daí que os «cristãos não são os únicos
melhores moralmente» (Ibidem: 23). Em sua conclusão, o Deus bondoso, não
resiste à descoberta de virtudes pagãs, e a lei moral não necessita dele como
garantia.
1.2. As imagens de Deus na
Bíblia
As imagens de
Deus que se encontram na Bíblia, que também Jesus as usa, são tão distantes com
as que os homens criam. Isso porque «Deus
não é objecto de conhecimento» (Ibidem: 38). Ou seja, Deus não deve ser
colocado no nível de conhecimento racional, mas na união e encontro com os
homens. Pois, «Deus é uma pessoa que se revela
por meio dos profetas e por Jesus Cristo» (Ibidem). Por isso, tudo o que
alguém diz a respeito de Deus em termos positivos, «não define Sua natureza mas o que cerca a Sua natureza, porque Deus é
mais do que tudo o que se pode dizer a Seu respeito» (Ibidem). Deus é
sempre maior do que pensamos. Ou seja, «Deus
não se deixa limitar» (BLANK, 1988: 33).
1.2.1 Deus amante
A figura do amante
é uma das imagens que muitos profetas se serviram para falarem de Deus aos seus
interlocutores. O profeta Oseias, por exemplo, mostra Deus como «o amado que promete felicidade à sua amada»
(Os 2, 21-22). Na profecia de Isaías, se encontra «Deus como o esposo que perdoa a esposa infiel» (Is 54, 5-8). Como
se pode notar, o amor patente nestas citações bíblicas, muitas das vezes, está
cheio de mal-entendido. Pois, a amada de Deus (o povo de Israel), se prostitui,
foge e até não quer reconhecer o seu amante. Contudo, Deus como amante do povo,
nunca se cansa e continuamente está fiel ao seu povo. Isso porque «o Amor de Deus vence todas as dificuldades, e
é mais forte que a morte. E não há nada que lhe pode submergir» (Ct 8,6-7).
1.2.2. O Deus de Aliança
A Aliança é um
dos temas privilegiados no Antigo Testamento. «O Deus que Jesus chama de Pai, é esse que inaugurou a história de
libertação» (FERREIRA, 1970: 23). E devido a sua importância, Jesus retoma
apresentando-se como o noivo, o esposo no meio dos seus (Mc 2,19), como Aquele
esposo que convida os convivas das núpcias de um modo imprevisto (Mc 14,17). Uma
vez que Deus é o esposo, o amante de Israel, então, o problema sobre a
omnipotência de Deus que muitas vezes é levantado, se situa num outro plano. «Deus é omnipotente, porém, a Sua
omnipotência não se faz sentir diante da liberdade humana. Pois, Deus tudo
pode, mas não obriga os homens a Lhe amarem» (BARREAU, 1972: 41).
1.3. O Deus dos Evangelhos
«Dizer que Deus é Pai é dizer que Deus é
fonte da vida. Pois, Deus nos cria, nos faz, nos mantém vivos a cada minuto da
nossa existência» (BINGEMER, 2003: 18). Portanto, Ele é nosso Pai. A designação
de Deus por Pai, só se encontra no Novo Testamento. Jesus quando se dirigia a
Deus, na sua língua materna usa a palavra Abba
(Paizinho). Ele chamando Deus por Pai, fazia sobre Deus a mais extraordinária
revelação. Deus não é somente Amor, é Pai, não só de Jesus, Filho único, mas
também nosso Pai. «Deus é amor e
justamente porque é amor, Deus é comunhão do Pai, Filho e Espírito Santo» (COMASTRI,
2000: 117). Entretanto, por meio de Jesus Cristo que se fez nosso irmão segundo
a natureza humana, tornamo-nos filhos adoptivos de Deus. E com Jesus, temos o
privilégio de dizermos Abba, como Ele
dizia. A revelação da paternidade de Deus, por meio de Jesus Cristo, introduz-nos
no maior segredo de Deus.
II. AS DIMENSÕES DO HOMEM
O homem durante o
seu percurso sobre a terra é caracterizado por três dimensões: a dimensão
vertical, horizontal e a interior.
2.1.
Dimensão vertical
Esta dimensão coloca o homem em
relação com tudo o que está acima dele: «Deus,
a tradição, os valores morais, a pátria, o estado e o património» (BARREAU,
1972: 42). Estas categorias, vêm directamente de Deus. Portanto, na dimensão vertical,
se reconhece Deus como Pai, do qual Jesus fala continuamente. E os traços deste
Pai, se encontram na parábola do filho pródigo (Lc15, 11-32), que vendo seu
filho chegar de longe, corre para lançar-se-lhe ao pescoço e abraçar. Entretanto,
Deus é um Pai de ternura que respeita os seus filhos. Porque «Deus como amante, Ele nos quer livres e
livremente Ele deseja ser amado. E quando chama a quem quer que seja, nada está
montado previamente. O Seu chamado dá fundamentos à liberdade da amada. Pois,
Deus nos chama e nos faz livres» (Ibidem).
2.2.
Dimensão horizontal
A dimensão horizontal coloca o homem
em relação com tudo o que está à sua volta: os irmãos, amigos, e os seus
semelhantes. Aqui o homem vive os valores universais da fraternidade e
igualdade. O característico nesta dimensão, é a irmandade. A dimensão
horizontal, atingiu o seu ponto máximo em Jesus, porque «Ele revelou-nos Deus como fraterno. Porque Ele como o Emanuel, veio
habitar no meio de nós, para nos salvar e nos libertar do pecado» (Ibidem: 54).
Entretanto, na dimensão horizontal, o homem contempla o rosto de Jesus Cristo, a
partir dos rostos dos irmãos. Pois, foi Ele que disse: «tive fome e me deste de comer, tive sede e me destes de beber» (Mt
26, 35).
2.3.
Dimensão espiritual
Na dimensão espiritual, o homem se
coloca em relação com o que está dentro de si mesmo. É o mundo da alma, do
espírito, do instinto e da intuição. O homem na sua intimidade encontra os
valores próprios da interioridade. Estes por sua vez, não tem nada a ver com a subjectividade,
porque a categoria da subjectividade difere com a da interioridade, pois, «a subjectividade fecha o homem no seu
pequeno mundo individual, enquanto a interioridade coloca-o em comunicação com
as fontes mais profundas do ser» (Ibidem: 51). O homem quando se coloca na
sua interioridade, entra em relação com Deus que está dentro de si. Porque «Deus está em nós mesmos, como nosso Espírito»
(Ibidem). E quando o homem vai até o fundo do seu coração, lá O encontra, como
muito bem Santo Agostinho observou ao dizer: «Deus é mais íntimo a mim mesmo do
que a minha própria intimidade» (A Busca de Deus: Nos Solilóquios de S.
Agostinho). Com estas dimensões, se percebe que o homem precisa de se
relacionar com o que está acima, em volta e com o que está dentro de si.
III. ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é
aquele que abre «o mundo de Deus ao mundo
dos homens e a história humana e constitui a comunidade dos homens no amor do
Pai e do Filho» (FORTE, 1987: 114). Dai que «ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor a não ser no Espírito Santo»
(1Cor 12,3). Ou seja, «sem o Filho, não
conhecemos nem o Pai nem o Espírito. Assim como, sem o Espírito Santo, não
conhecemos o Pai e o Filho» (FERREIRA, 1970: 18). Portanto, «Deus age em união com o Filho e o Espírito
Santo» (SCHULTE, 1972: 318). E o revelador do Pai e do Filho é o Espírito
Santo. Entretanto, todas as vezes que o homem deseja conhecer quem é Deus, em
nenhum momento se vê fora do Espírito Santo. Pois, Ele é «a luz sob o qual se contempla o mistério de Deus» (Ibidem: 18).
3. 1.
Acção do Espírito Santo
Em
hebraico ruah significa sopro, ou
então, vento. Este sopro pode ser entendido como sendo aquela «força que sustém e anima o corpo e a sua
massa» (DUFOUR, 2002: 294). Este sustentáculo não é propriedade do homem,
embora ele não possa viver sem ele, e morre quando este sopro respiratório
falta. O sopro do homem vem de Deus (Gn 2, 7; 6, 3; Jo 33, 4). E a Ele volta com
a morte do homem (Jó 34, 14; Sl 15, 11). Quando se fala do Espírito Santo,
terceira pessoa da Santíssima Trindade, logo a primeira impressão dos que falam,
pensam ou imaginam uma realidade vaga, sem forma corpórea. Portanto, o Espírito
Santo é algo que não oferece uma clara concepção. Pelo contrário, Ele se faz
visível a nós pelos seus efeitos. A sua presença é notória na nossa vida a
partir dos seus frutos, aqueles que muito bem São Paulo fala aos Gálatas: «o amor, a alegria, a paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gl 5, 16-25).
A
acção do Espírito Santo, também pode ser vista na história dos povos e na vida
de cada um. Por exemplo, na Bíblia, logo no Antigo Testamento, se encontra a
acção do Espírito Santo, que esteve presente na criação do mundo e do homem (Gn
1, 1-2; 2, 7). A mesma acção do Espírito Santo, esteve também presente e
acompanhou a missão dos profetas, para que em nome de Deus defendessem os
pobres e os oprimidos, e suscitar nas pessoas o conhecimento segundo o qual
elas são filhos de Deus.
No Novo Testamento, se encontra a
acção do Espírito Santo, presente no nascimento de Jesus (Lc 1, 34-35), na Sua
missão desde o Baptismo (Lc 4, 1-14), esteve também no Pentecostes como a força
motriz para a comunidade dos Apóstolos reunida (Act 2, 1-4). Portanto, o
Espírito Santo está presente nas boas acções que se realizam no nosso mundo. Por
isso, é importante reconhecer a presença do Espírito Santo na nossa vida como o
motor das boas acções e da evangelização. «O
Espírito Santo trabalha connosco sem nós, não actua. O vento do Espírito Santo,
irrompe nas portas dos nossos corações. Se elas estiverem fechadas, Ele fica rodopiando
de lado de fora» (BARREAU, 1972: 72). Mas, se abrimos as portas dos nossos
corações, pequena brecha que seja, a «ruah»
de Deus, irrompe em nós, e por meio de nós, a sua força se expandirá no
mundo inteiro, e seu fogo pega e torna-se devorador.
3. 2. As consequências do esquecimento do
Espírito Santo
O agir de Deus, a vida de Deus é o
Espírito Santo. «O Espírito Santo é uma
presença contínua e anónima em nós» (Ibidem: 62). Este Espírito Santo, possui
uma multiplicidade de rostos. Daí que, de certa forma, Ele assume na realidade
o rosto de cada um dos nossos irmãos. «Uma
vez que o Espírito Santo é o vento que nos impele a praticarmos o bem, e a
evitarmos o mal, Ele não pode agir fora de nós. Pois, precisa da nossa
colaboração» (Ibidem).
Quando o homem se deixa guiar por
meio do Espírito Santo, ele é capaz de exclamar como Jesus: Abba, (Pai). Pois, o Espírito Santo
sopra vivamente nele (Mc 14, 36). Todavia, quando se esquece que a vida de Deus
é Espírito Santo (ruah), o homem vive
consequências drásticas na sua vida, ele vive de proibições e como resultado,
se esquece de praticar a justiça (Lc 10, 29-37). Portanto, «a obediência cega da Lei e das rubricas de
um culto passado, provoca desprezo ao próximo» (Ibidem: 63). Entretanto,
quando se ignora a presença do Espírito Santo, há uma posição irredutível às
tendências legalistas e se confunde o sagrado do profano, a Igreja com o mundo,
o natural com o sobrenatural. Mas, para um cristão, animado pelo Espírito
Santo, não pode distinguir «Igreja e o
mundo, porque a Igreja é o mundo quando este mundo toma consciência, por Cristo
de ser amado por Deus» (Ibidem: 65).
3. 3. A crise
do Espírito Santo
Em breves
linhas neste tema se pretende falar o que acontece com o homem quando se
esquece ou fecha as portas do seu coração ao Espírito Santo. Fazendo um reparo
o nosso tempo, a medicina as outras ciências atingiram avanços e progresso
consideráveis. Estes progressos fizeram com que muitas pessoas depositassem
maior confiança nestes avanços tecnológicos. No entanto, apesar dos ganhos
adquiridos por estas ciências, o homem se sente incapaz de se livrar do «desprezo, do racismo, do ódio e da guerra»
(Ibidem: 88). Face a tudo isso, o homem se interroga sobre a sua existência, o
seu ser e o sentido da vida. A razão do questionamento do homem é que apesar do
grande progresso científico e tecnológico, «a
própria ciência não abre nenhum caminho para que o homem se reconheça e se
livre da violência, do desprezo e do mal» (Ibidem). Diante de tudo isso, o
homem aos poucos começa a acreditar que a ciência não traz a almejada
felicidade. Acredita também que o consumo dos bens materiais não lhe satisfaz a
sede de possuir mais. Pois, enquanto possui isto, deseja aquilo. Daí a
insaciável fome material. Por isso, o homem se interroga: «quem pode fazer de nós verdadeiros seres vivos?» (Ibidem).
A esta pergunta
o homem encontra o fundamento «em Jesus
Cristo, vencedor da morte, como Aquele que nos pode fazer viver e nos dá
coragem sempre renovada para lutar contra todas as alienações fundamentais da
nossa condição humana» (Ibidem: 89). Assim sendo, «o homem só compreende tudo isso por intermédio do Espírito Santo que
lhe fala no seu coração e lhe permite reconhecer que Jesus de Nazaré é o nosso
Senhor e Deus é nosso Pai» (Ibidem: 70).
CONCLUSÃO
Chegado ao fim
desta abordagem sobre Quem é Deus, se
pode concluir que o crer ou não
em Deus, não constitui o grande problema sobre o tema em questão. Pois, mesmo
que a pessoa acredite ou negue a Deus, Ele continua sempre Deus. A essência
divina não aumenta nem diminui com as afirmações humanas. «Deus é Deus enquanto Deus» (Ibidem: 9). Por outro lado, as imagens
de Deus que se econtram na Bíblia, que também Jesus as usa, são tão distantes
com as que os homens criam. Isso porque «Deus
não é objecto de conhecimento» (Ibidem: 38). Deus não deve ser colocado no
nível de conhecimento lógico ou intelectual mas na união e encontro com os
homens. Porque «Deus é uma pessoa que se
revela por meio dos profetas e por Jesus Cristo» (Ibidem). Por isso, tudo o
que alguém diz a respeito de Deus em termos positivos, «não define Sua natureza
mas o que cerca a Sua natureza, porque Deus é mais do que tudo o que se pode
dizer a Seu respeito» (Ibidem). Assim sendo, «ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor a não ser no Espírito Santo»
(1Cor 12, 3). Ou seja, «sem o Filho, não
conhecemos nem o Pai nem o Espírito Santo. Assim como, sem o Espírito Santo,
não conhecemos o Pai e o Filho» (FERREIRA, 1970: 18). Portanto, o revelador
do Pai e do Filho encarnado é o Espírito Santo.
A presença
do Espírito Santo é notória na nossa vida a partir dos seus frutos, «o amor, a alegria, a paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gl 5, 16-25). Portanto,
quando o homem se deixa guiar por meio do Espírito Santo, ele é capaz de
exclamar como Jesus: Abba, (Pai).
Pois, o Espírito Santo, sopra vivamente nele (Mc 14, 36). Todavia, quando se
esquece que a vida de Deus é Espírito Santo (ruah), o homem vive consequências drásticas na sua vida. E uma delas
actualmente é o abandono da fé critã de alguns baptizados, para as seitas, com
o intuito de terem uma vida facil, sem sacrificios. Mas, depois de tanto
correrem atrás do vento que não salva, ganham a consciência que só Deus, por
meio de Seu Filho Jesus Cristo, no Espírito Santo, é que o homem pode viver
dignamente a sua vida.
BIBLIOGRAFIA
BARREAU,
Jean-Claude (1972) Quem é Deus,
Petrópolis: Editora Vozes.
BLANK, J. Renold (1988)
Quem, afinal, é Deus? 2ª Edição, São
Paulo: Edições Paulinas.
COMASTRI, Ângelo (2000)
Tu és Trindade, São Paulo: Edições
Paulinas.
FERREIRA, Isabel Fontes
Leal (1970) Revelação do Pai e do Espírito
Santo, Edições Paulinas.
FORTE, Bruno (1987)
A Trindade como História, 3ª Edição,
São Paulo: Edições Paulinas.
QUEIRUGA, T. Andrés
(1993) Creio em Deus Pai, São Paulo:
Edições Paulinas.
SCHULTE, Raphael (1972)
Preparação da Revelação da Trindade,
in Mysterium Salutis, Vol. II/1, Petrópolis: Editora Vozes.