terça-feira, 18 de outubro de 2011

ORAÇÃO EM SÃO LUCAS


Introdução
O presente trabalho fala de Oração em São Lucas. O tema da oração para este evangelista é de grande importância. Portanto, devido a esta grande importância que o evangelista dá ao tema, propusemo-nos, contabilizar quantas vezes o termo oração aparece no Evangelho. O outro objectivo do trabalho consiste em compreender a noção de oração para Lucas. Por fim, entender o significado da oração de Jesus neste Evangelho. Para uma boa compreensão, abaixo está o esquema que o trabalho obedecerá.
Definição do termo oração
O número de vezes da palavra oração em São Lucas
Os momentos em que Jesus reza
Significado da oração de Jesus
Conclusão

Definição
Como definição, oração «é a parte integrante daqueles actos da vida cristã que, são indispensáveis e necessários à salvação»[1]. Ou seja, a oração representa fundamentamente a expressão e afirmação das virtudes divinas. Ela juntamente com o sacrifício, constitui o acto principal do culto. A oração na vida do crente, «não é outra coisa senão colocar o que é, o que tem e o que faz ao brilho do reino»[2]. Para o Antigo Testamento, o ponto cetral da oração estava na aliança de Deus com o seu povo. Pois, quem rezava «falava a Deus da sua história, do pacto da Aliança do Sinai e de Divid, louvava a Deus pela sua unicidade e gradenza, agradecia a Deus pela sua ajuda maravilhosa, queixava-se a Ele e desabafava-se a Deus na necessidade»[3]. Ainda no A.T. o orante «estava profundamente convencido da presença poderosa e clemente de Javé no seu povo»[4].
Para o Novo Testamento, «Jesus com a sua vida, constitui a oração fundamental, pois, foi Ele que disse: não quiseste sacrificio nem oblação, mas me formaste um corpo [...] Então eu disse: eis que venho ó Deus, para fazer a tua vontade (Hbr 10, 5-7)»[5]. Jesus é a Palavra de salvação, o apelo do Pai aos homens não redimidos[6].

O número de vezes da palavra oração em São Lucas
No Evangelho de São Lucas, a palavra oração aparece 20 vezes. Porém, de formas diferentes. Às vezes em forma de verbo, outras vezes como substantivo e até mesmo como adjectivo. E em alguns vericulos o termo oração se repete mais de 3 vezes. Exemplo disso se pode ver em Lucas 22, 39- 43, (no monte das Oliveiras), onde Jesus reza muitas vezes. Eis alguns textos onde pelo menos aparece uma das formas de oração acima refereciadas.
Lc 3, 21;                     Lc 18, 1.10-11;           Lc 22,31;        Lc 21, 36.
Lc 5, 16;                     Lc 18, 28-29;              Lc 22, 40-46
Lc 6,12;                      Lc 11,1                       Lc 19,46;

Os momentos em que Jesus reza
Segundo São Lucas, Jesus reza nos momentos decisivos da Sua Missão: no Seu Baptismo (Lc 3,21); na escolha dos Doze (Lc 6,12); na profissão de fé de Pedro (Lc 9,18); na transfiguração (Lc 9,28); no monte das Oliveiras (Lc 22, 41), e por último, na Cruz, como o momento mais alto da oração de Jesus (Lc 23, 46)[7]. Na óptica de São Lucas, a oração de Jesus «foi antes de tudo uma escuta ao chamamento do Pai que Lhe confiava a tarefa da História de Salvação do mundo»[8]. Nesta tarefa, Jesus procurava mais claramente, realizar a vontade do Pai. Esta atitude de Jesus de estar intimamente ligado com o Pai na oração, é bastante sublinhada por São Lucas, destacando os importantes momentos em que Jesus se encontra em oração.
Portanto, a atitude de escuta de Jesus está estruturada na oração. Ou seja, Jesus ciente da Sua Missão que é a de fazer a vondade do Pai, Ele deve estar constantemente ligado a Deus. E esta sintonia se estabelece na oração. É por isso, que Ele, afirmou: «o meu alimento é fazer a vontade de quem me enviou» (Jo 34).
Significado da oração de Jesus
Para Lucas, a oração «é o amor do Pai, que por meio de Jesus, se manifesta na vida de cada cristão»[9]. E Jesus em oração, mostra-nos que é preciso manter-se em constante oração, como a viúva (Lc 18, 1-8), que pede insistentimente ao juíz corrupto que lhe fizesse justiça. Nesta perspectiva, a oração começa a ser um estado de abertura aos outros. Por exemplo, em Lucas 3, 22, lê-se: «Tu és o meu Filho bem-amado; em Ti ponho minha afeição»[10]. Aqui se encontra a plena manifestação da Trindade. E esta manifestação Trinitária, teve lugar quando Jesus se encontrava em oração. Potanto, «o Céu aberto é fruto da oração de Jesus»[11]. A oração de Jesus manifesta a absoluta obediência amorosa que Ele tem com a Missão salvífica do Seu Pai.
Jesus em oração, representa um novo responsável da comunidade humana, que em nome dela, a Sua oração necessariamente tem um carácter de intercessão. A oração de intercessão de Jesus está patente em Lucas 22,32, quando Ele reza por Pedro e aos seus perseguidores (Lc 23, 34) Em fim, a oração de Jesus resume-se na oração sacerdotal, quando Ele pede ao Pai que «defenda do mal os seus discípulos, os santifique na verdade e os receba no seu coração na sua glória» (Jo 17). Por último, a oração de Jesus tem como pano do fundo a glorificação de Deus amoroso e misercordioso[12].
Conclusão
Depois de uma leitura atenta do Evangelho de Lucas empreendida durante a pesquisa do tema em epígrafe, é chegada a altura de concluir que a oração «é o amor do Pai, que por meio de Jesus, se manifesta na vida de cada cristão»[13]. E como se não bastasse, o modelo e mestre da oração é Jesus Cristo na Sua união Trinitária. Pois, a vida de Jesus foi antes de tudo caracterizada por uma escuta ao chamamento do Pai que Lhe confiava a tarefa da História de Salvação do mundo[14]. No entanto, para Lucas, a oração é um abrir-se ao Pai. Ou seja, a orção é uma abertura do crente à Deus, com a sua vida inteira e com os problemas do dia-a-dia. É um abrir-se na confiança de que o Reino dos Céus está perto[15]. Nesta óptica, a oração significa estar aberto ao Amor do Pai. E o crente abrindo o seu coração na oração, recebe do Céu a força do Espírito[16].

Bibliografia
Dicionário de Teologia, Conceitos Fundamentais da Teologia actual, Vol. IV, Ed. Loyola, São Paulo 1970.
J. PIKAZA, A Teologia de Lucas, 2ª Edição, Edições Paulinas, São Paulo 1985.
José F. DE OLIVEIRA, Católicos Serenos e Felizes, no princípio foi assim. Edições Paulus, São Paulo, 1997.


[1] Dicionário de Teologia, Conceitos Fundamentais da Teologia actual, Vol. IV, Ed. Loyola, São Paulo 1970, p. 48.
[2] Javier PIKAZA. A Teologia de Lucas, 2ª Edição, Edições Paulinas, São Paulo 1985, p. 108.
[3] Dicionário de Teologia, Conceitos Fundamentais da Teologia actual, Vol. IV, Ed. Loyola, São Paulo 1970, p. 48.
[4] Ibidem, p. 48.
[5]Dicionário de Teologia, Conceitos Fundamentais da Teologia actual, Vol. IV, Ed. Loyola, São Paulo 1970,  p. 48.
[6] Ibidem, p. 55.
[7] Op cit., p.57.
[8] Ibidem, p. 55.
[9] Javier PIKAZA. A Teologia de Lucas, 2ª Edição, Edições Paulinas, São Paulo 1985, p. 80.
[10] Op cit., p. 55.
[11] Op cit. p. 57.
[12] Op cit., p. 58.
[13] Op Cit., p. 80.
[14] Dicionário de Teologia, Conceitos Fundamentais da Teologia actual, Vol. IV, Ed. Loyola, São Paulo 1970, p. 48.
[15]. Ibidem, p.80.
[16] Ibidem, p. 81.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

“VÓS SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS”


No dia 09 de Setembro de 2011, o salão nobre situado  na residência paroquial da Sé Catedral de Maputo acoclheu mais de 100 jovens, em vigília, em vista ao Sacramento de Crisma. Além dos crismandos, participaram na efiméride  como oradores, o pároco, Pedre Jaime, como moderador, a Drª Felomina, que falou aos jovens da vigília a experiência da Jornada Mundial de 2008, em Signe, na Australia, o jovem Adixon, que também partilhou a sua experiência da Jornada Mundial de 2011, em Madrid aos jovens da vigília e Ivone Maria Maduela, licenciada em Catequetica, em Roma, que falou aos presentes da Liturgia. Também, o número dos oradores foi engrossado pela presença de  três seminaristas teólogos, nomeadamente: Abel Echamo Canada, Carlos Evaristo José e Cacildo Lourenço António. O primeiro falou aos presentes do Sacramento da Penitência, o segundo do Sentido da Vigília e o terceiro deliciou o grupo de jovens na vigília com o Sacramento de Crisma. Eis o texto na integra do segundo orador da noite da vigília do dia 09 de Setembro de 2011.
 



INTRODUÇÃO
A Igreja ensina que o Nosso Senhor, Jesus Cristo, instituiu sete sacramentos: Baptismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimónio (CIC 1210). Por sua vez, os sacramentos estão agrupados em três tipos: sacramentos da iniciação cristã (Baptismo, Confirmação e Eucaristia) são os alicerces de toda a vida cristã, pelos quais, os homens recebem a vida nova de Cristo (CIC 1420) e avançam para a perfeição da caridade[1]; sacramentos de cura (Penitência e Unção) pelos quais, os cristãos se beneficiam da salvação operada por Cristo, mediante a acção do Espírito Santo (CIC 1421); e sacramentos de serviço (Ordem e Matrimónio) que são ordenados para a salvação do outrém. Contribuem igualmente para a salvação pessoal, é através do serviço dos outros que o fazem. Conferem uma missão particular na Igreja, ao serviço da edificação do  povo de Deus (CIC 1534).
O que é Sacramento?
Sacramento é um sinal sensível e compreensível, constituído por matéria “gesto”e forma “palavra” (Sacramento =  Palavra + gesto). Este sinal representa, oferece e dá acesso a uma realidade invisível: a graça e o poder salvador de Deus
Os sete sacramentos têm a ver com todas as fases e momentos importantes da vida do cristão: conferem nascimento,  e crescimento, cura e missão à vida de fé (CIC 1210). Pois existe uma certa semelhança entre as fases da vida natural e as da vida espiritual[2]. 
Assim, pelo Baptismo, somos incorporados na Igreja e constituídos pessoa, fazendo parte da família cristã (CDC nº 96); pela Eucaristia o cristão recebe, na comunhão, Cristo sacramentado, e fá-lo d’Ele seu alimento espiritual. Pela Confirmação é lhe confirmada a graça do Baptismo, mediante a recepção dos dons do Espírito Santo. Na Penitência, o cristão reconcilia-se com Deus e com os homens. Pela unção é fortalecido e aliviado na sua dor e morre na graça de Deus. No matrimónio, o homem e a mulher juntam-se para formar uma só carne (Gn 20,) em vista à procriação. Na Ordem, os consagrados participam do sacerdócio ministeral e agem in persona christi.
Contudo, os sacramentos só são entendidos no contexto eclesial. A Igreja ao oferecer os sacramentos aos fiéis quer, de certo modo, responder algumas necessidades das pessoas, pondo em evidência as etapas significativas da vida na terra. Pela experiêcia sabemos que na nossa existência passamos por várias e sucessivas iniciações. Ninguém assume responsabilidade sem que tenha passado por alguma iniciação. Os sacramentos têm este sentido: iniciam o crente para uma nova realidade de vida, a vida em Deus.
No elenco dos sacramentos, a Eucaristia ocupa um lugar único, como «Sacramento dos sacramentos»: todos os outros sacramentos estão ordenados para este, como para o seu fim (CIC 1211). 
SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO
 A Confirmação ou Crisma é o sacramento que completa a graça baptismal. Confere ao cristão os dons do Espírtito Santo. São sete dons: Sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade e temor de Deus.
Os dons são presentes de Deus para afinar a nossa vida espiritual; expressam a manifestação do Espírito Santo na vida da Igreja e na alma dos fiéis.
Sentido da Confirmação na Igreja
O sentido do sacramento da Confirmação nos é dado pelos significados dos seus gestos e simbolos. A Confirmação possui, principalmente, dois gestos: imposição das mãos e unção com o crisma; e três simbolos: pomba, vento e fogo.
Imposição das mãos
No A.T a imposição das mãos era um gesto simbólico, sinal de transmissão de algo que estava naquele que impõe. Em Génesis 48,14-18, Jacob abençoa os seus netos; em Números 27,18-23, Moisés transfere o seu poder para Josué.
 No N.T, para Jesus Cristo, a imposição das mãos é um gesto de cura e de bênção (Lc 4,40; Mc 6,5.10,13-16).
Nos primórdios da Igreja, todos aqueles que aceitavam a pregação dos apóstolos recebiam o Bptismo e também o dom do Espírito Santo, através da imposição das mãos.
Este gesto simbólico que traduz a transmissão duma graça especial, a Igreja continua a usar no Sacramento do Crisma, como sinal que comunica o dom do Espírito Santo. Por isso, no dia do crisma, o ministro estende as mãos sobre a cabeça ou sobre o grupo dos confirmandos e, ao mesmo tempo, invoca a infusão do espírito Santo (CIC 1299).
Unção com o óleo
 O Senhor disse a Moisés: «Ungirás também Aarão e os seus filhos para que exerçam o sacerdócio em minha honra» (Ex 21,29; 30,30). Quando Saul estava para ser rei,  Samuel derramou o óleo sobre a sua cabeça (Sm 10, ss).
Era assim que o povo hebreu, tal como em muitas outras culturas, usava o óleo como sinal de escolha e consagração para uma missão em favor do povo. Os profetas, os reis e os sacerdotes, antes de começarem a exercer os seus ofícios e serem considerados assim, eram ungidos pelo óleo.
Um momento importante que precede a celebração da Confirmação, e que, de certo modo, faz parte dela, é consagração do santo crisma. É o bispo que, na Quinta-Feira Santa, no decorrer da missa crismal consagra o santo crisma para toda a sua diocese (CIC 1297). Este óleo chama-se “crisma”- eis a origem do nome “Sacramento do Crisma”.
Porquê se usa o óleo? Qual é o seu significado?
O óleo é um sinal tangível, com o qual se transmite a força divina. Na Bíblia, o óleo simbolisa abundância, alegria, purificação, agilidade e força (CIC 1293).
A Palavra “Cristo” provém do grego “Kristos” significa “Ungido ou consagrado”. A descida do Espírito santo sobre Jesus, aquando do seu Baptismo por João, foi sinal de que Ele era o ungido de Deus, Aquele que havia de vir  junto aos homens (Is 11,2), enviado como Profeta, Rei e Sacerdote. Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam numa comunhão com o mesmo Espírito Santo (Lc 4), que Deus Lhe concede sem medida (Jo 3,34).    
Pelo crisma, os cristãos são ungidos para participarem mais activamente na missão de Cristo (CIC 1294), testemunham  a salvação e a verdade em favor dos homens. Por isso, ao esfregar o óleo do crisma sobre a fronte do confirmando, o ministro diz: “RECEBE, POR ESTE SINAL, O DOM DO ESPÍRITO SANTO”. (CIC 1300), isto é, unção. 
Esta unção deixa no cristão uma marca espiritual, o carácter. A confirmação, assim como o Baptismo e a Ordem, não se repete, porque imprime um selo, que é a garantia do Espírito Santo no seu coração (2 Cor, 1,22; Ef 1,13; 4,30). Este selo do Espírito Santo marca a nossa pertença total a Cristo, a entrega para sempre ao serviço (CIC 1296), mas também a promessa da protecção divina na grande prova escatológica (Ap 7,2-3; 9,4; Ez 9,4-6).
Deste modo, ao ser ungido, o cristão reveste-se de uma fortaleza do alto, cuja finalidade é testemunhar Jesus Cristo.    
SIMBOLOS
Pomba
No momento em que Jesus saia da água, após ter sido baptizado por João, viu os Céus abertos e o Espírito Santo a descer sobre Ele como uma pomba. Ademais, em Gn 8,8-12, depois do dilúvio apareceu uma a pomba que entregou a Noé o sinal da renovação da criação. Esta pomba anuncia a paz. A nova criação e a Humanidade restabelecida era o início de uma era de vida sem destruição nem morte.
Sobre Jesus Cristo desce Espírito Santo, também em forma de uma pomba. Isto significa que, com Jesus o mundo está salvo. Está uma nova criação, começou uma nova vida, um novo povo de Deus, qual Ele (Jesus) é o primogénito. Com Jesus passaram as coisas antigas, está tudo renovado, como aconteceu no tempo de Noé.
De igual modo, a pomba simboliza a vida divina, pura e perfeita. Na Confirmação recebemos o Espírito Santo; e, o Espírito Santo tem esta missão de comunicar a vida em Deus.
O Vento
Em Actos dos Apóstolos 2,2, lê-se: «De repente, veiu do Céu um ruído forte, comparável a uma rajada de vento, que encheu toda a casa em que se encontravam».
Pela experiência, sabemos que o vento, isto é, o ar, é um elemento natural indispensável para vida dos seres vivos. Assim também o Espírito Snto é vital para os filhos de Deus. Eles não podem ser, nem viver, sem o Espírito Santo. Ele é o lugaronde vivemos, nos movemos e existimos. Por isso, o cristão será verdadeiramente tal só se viver do Espírito Santo.
O vento não se vê, nem se pode tocar, mas pelo seu movimento e seus efeitos sabemos que existe. Assim também o Espírito Santo se vê pelas suas realizações no mundo, na comunidade e nas pessoas.
No processo da combustão, o vento é comburente, alimenta o fogo; enche o espaço, movimenta coisas e está em constante movimento. Da mesma maneira, o espírito santo fortalece e assegura a chama da nossa fé. É Ele que alimenta a Igreja dos seus dons, impele-a a anunciar o Evangelho de Cristo. O Espírito Santo une pessoas de diferentes raças, etnias e convicções politicas numa só família (a Igreja), com uma só linguagem (a linguagem do amor).
O fogo
«Eu vos baptizo com água para o arrependimento. Mas aquele que vem após mim é mais forte que eu. Ele vos baptizará com o Espírito Santo e com o fogo» (Mt 3,11).
Noutra passagem «aparareceram então linguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles, e ficaram cheios de Espírito Santo» (Actos 2,3-4).
O fogo tem este poder de transformar tudo o que passa por ele. Fornece luz, purifica e coze. O mesmo se pode dizer do Espírito Santo. Ele ilumina e transforma a alma daquele que o recebe.
 Receber o fogo do Espírito Santo significa aceitar ser transformado e purificado. É aceitar passar pelo lume do amor, para uma nova maneira de viver e estar no mundo.
Comparando todos estes sinais e gestos, que o Sacramento da confirmação comporta, podemos notar algo em comum: Deus se revela no mundo através de sinais sensíveis e compreensíveis a fim de podermos entrar em comunhão com Ele e sermos salvos.
Por isso, o Sacramento da Confirmação produz os seguintes efeitos (CIC 1303):
Enraiza-nos mais profundamente na filiação divina;
Une-nos mais firmemente a Cristo;
Aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
Torna mais perfeito o laço que nos une à Igreja;
Dá-nos uma força especial do Espírito Santo para prolongar e defender a fé, pela palavra e acção, como verdadeiros testemunhas de Cristo.
A sua celebração compreende (CIC 1298-1301):
Renovação das promessas batismais;
Profissão da fé (para evidenciar a sua ligação com o Baptismo);
Unção com o óleo do crisma;
Imposiçõ das mãos;
Transmissão duma graça especial.
Podendo terminar com o ósculo paz, sinal da comunhã eclesial dos confirmandos com o bispo e com todos os fiéis.
Ressalta desta celebração que o efeito do sacramento da confirmação é a infusão do Espírito santo em plenitude, tal como outrora as Apóstolos, no dia de Pentecostes.


Para receber este sacramento, o cristão precisa (CIC 1308-1311):
Ter sido baptizado;
 Atingir uma maturidade cristã, mediante uma caminhada catequética; 
Estar na graça de Deus, antecedida pela reconciliação e devida penitência;
Possuir padrinho (s), de prefrência o (s) mesmo (s) do Baptismo, para frisar a sua ligação com este sacramento. 

O LUGAR DO CRISMADO NA IGREJA
 As minhas testemunhas sois vós, diz o Senhor, vós sois os servos que eu escolhi, a fim de que saibais e acrediteis em mim e possais compreender que eu sou, nenhum outro dues existiu antes de mim e, depis de mim, nenhum outro existirá. Eu Sou Deus, for a de mim não há nenhum Salvador. Eu é que revelei, que salvei e falei. Nenhum outro deus houve jamais entre vós. Vós sois minhas testemunhas” (Is 43,10-12).
 Mas recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e series minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, em Samaria e, até aos confins da terra” (Actos 1, 8).       
Dar testemunho de Deus no mundo é uma vocação e missão do povo de Deus. O texto do profeta Isaias, mostra que o povo de Israel tinha sido chamado para dar testemunho do plano do seu Deus, entre os povos vizinhos.
Como seria este testemunho? 
Professando, vivendo e anunciando aos homens que Deus tem um plano de salvação para a humanidade.
Os profets são testemunhas de Deus no meio do seu povo (Jeremias 23,16),
Jesus Cristo é aquele que veio para dar testemuho do Pai (Jo 5,16)
Após a Ascensão de Jesus, o Espírito Santo começa a dar testemunhuo de Jesus Cristo (Jo 15,26) servindo-se dos discípulos (Mt10,20).
Dar testemunho de Jesus era a principal missão dos Apóstolos (Actos (2,32; 3,15). O testemunho dos Apóstolos era sobre uma pessoa- Jeus Cristo: sobre a sua vida, obra, morte e ressurreição (Actos10,37-45). Uma vez que a unção simboliza força e resistência, o cristão crismado deve ser pessoa disponível para as actividades da comunidade e não se deixar vencer pelas tentações do mundo.  
Mas, o que é ser testemunha?
Não é apenas referir-se ao que viu ou ouviu. Não é simplesmente dar informações sobre algum acontecimento. Testemunhar significa agir em nome de alguém, com o qual nos relacionamos intimamente. Testemunha cristão é aquele que age em nome de Jesus Cristo ressuscitado. Dar testemunho do Cristo é confessor publicamente a nossa fé e as nossas convicções mais profundas. É dizer sim eu Creio em Deus e em Seu Único Filho.
A primeira comunidade cristã ensina-nos como dar testemunho de Cristo em comunidade (Actos 2,42-47). O Sacramento da Confirmação tem muito em comum com o Acontecimento de Pentecostes. Assim como os Apóstolos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a testemunhar Jesus ressuscitado, assim também no dia do Crisma recebe-se o Espírito santo, logo  o cristá está hábil para testemunhar Jesus.
 O dom do Espírito Santo que se recebe na Confirmação lança o cristão para uma aventura maior; que é de colaborar estreitamento na obra de Jesus Cristo. Concretamente, isto pode implicar: assumir responsabilidades na comunidade (ser catequista, animador, ancião, animação litúrgica, cantar, etc).
Assumir responsabilidades públicos e sociais, e exercê-las à luz do evangelho. Isto é, não ter medo de assumir responsabilidade sociais, porque se é cristão.Trabalhar pela construção de um mundo melhor e mais fraterno. Em que consiste? preocupação pelo outro, onde as dificuldade de um são dificuldades de todos.
Como cristãos crismados somos convidos a lutar onde quer que estejamos contra tudo o que vai contra a nossa fé. A nossa referência e modelo de vida é sempre Jesus Cristo. O crisão é sal da terra e luz do mundo, mas não somos do mundo, pertencemos a Cristo.
O cristão é um indivíduo que vive no meio de uma sociedade que tem outras referências na sua conduta. São muitas doutrinas e filosofias que regem o mundo actual. Umas boas outras não muito boas. E o cristão deve saber identificar essas doutrinas para não trocar a sua fé. Deve saber identificar-se com Cristo, dentro das propostas que o mundo lhe oferece.
São Paulo nos lembra que por termos aceite o Baptismo e o termos confirmado pelo Sacramento do Crisma, tornámos público que a nossa referência é Cristo. Ora, se Cristo é nossa referência, em todas as situsações devemos viver a agir segundo o que aprendemos de Cristo. É assim que o cristão deve ser identificado não pela certtidão do Bptismo, mas pelo seu comportamento, sua maneira de viver, de ser e  de estar no mundo.
Viver neste mundo como cristão significa abandonar tudo o que não me identifica como Cristo e sua Palavra. O cristão está no mundo para ser sal e fermento que leveda e dá sabor a esta vida e aponta o caminho da salvação. Descrever tudo o que é contrário a Cristo é uma coisa impossível! Mas podemos dar em linhas gerais aquilo que a nossa  cultura é contrrário à nossa fé.
Hoje, acreditamos que Jesus Cristo venceu a morter e todas as forças do mal, no entanto, alimentamos um medo doentio dos mortos, espíritos e forças ocultas. Continuamos a correr para os que dizem ter comunicação directa com as forças ocultas e que muitas vezes nos deixam viver num medo contínuo.
Acreditamos que Cristo revelou-nos o amor misericordioso de Deus e tornou possível o amor enre os homens, no entanto, continuamos a alimentar sentimentos contrários ao amor, promovemos a infidelidade, a mentira dos sentimentos e a superficialidade nas nossas relações.
Acreditamos que Cristo veio dizer a todos a grandeza da vida humana, desejada e protegida por Deus, mas continuamos a abusar da vida dos outros, da nossa também, pelas diferentes práticas, sem referência à fé cristã.
Acreditamos que Cristo é a nossa razão de viver, contudo, nos deixamos escravizar pelo luxo, supérfluo, pela moda, pela fama, pela beleza, pelo bem estar ilícito, pela vida fácil, e por tudo o que o mundo nos oferece como valores efémeros. Estamos na era em que tudo tem valor, menos a vida que é  relativizada, quando não podia ser. É contra todos estes usos e costumes que o cristão deve se precaver, lutar para que na sociedade se transforme e haja uma vida segundo a novidade do Evangelho.
Todos somos capazes em conduzir a nossa vida para que seja realmente um espelho e um eco do Espírito Santo que habita em nós. Muitas vezes dizemos que o homem é templo do Espírito Santo. Ora, não bastará seleccionar todos os sacramentos para termos a salvação.
É importante que entendamos a vida cristã como vivência pessoal de um itinerário desejado, acolhido e vivido de modo pessoal. A vida cristã é vivida na primeira  pessoa do singular EU, que exige ionserção numa comunidade de vida onde nos tornámos nós.
O Espírito Santo dá a cada um os seus dons e por isso nos torna fortes e cheios de vida para respondermos àquilo que Deus quer de nós em nossa vocação. O sacramento da Confirmação é o momento forte em que recebemos a presença dos dons do Espírito Santo e, a partir deste momento, passamos a ser testemunhas de Cristo.
Ser testemunha de Cristo significa agir  em nome de Cristo. Nosso agir, nossa vida e nosso comportamento passarão a nos identificar com o próprio Cristo. Com o Sacramento do Crisma passamos a ser aquelas pessoa sque entusiasmam os outros a gostar de Deus. Aquilo que aconteceu com os apóstolos no dia de Pentecostes e após com o Crisma deverá acontecer em cada um de nós. Seremos chamados a responder sim, a abandonar a fé infantil (Crisma é sacramento de maturidade cristã) e a viver o Evangelho de Jesus Cristo.
Ser testemunha de Cristo vai significar a responsabilidade que eu assumo pela transformação da minha familía, e a minha própria transformação para as coisas de Deus , através da sua Igreja. A Igreja passará a ser o ponto de actracção da minha vida e a maneira de viver, com a comunidade, a minha fé.
Ser testemunha de Cristo é deixar de lado a vergonha de ir à missa, rezar, de ensinar ou fazer aquilo que não convêm. É encontrar tempo para visitar Jesus no Sacramentado, através da adoração e da oração pessoal. É aprofundar o Evangelho pela escuta da Palavra e pela formação contínua.  É aprofundar o conhecimento da sua religião.
Ser testemunha de Cristo é deixar de lado os nossos esquemas mentais e particulares, para assumir a causa de quem necessita da nossa ajuda. É ir ao encontro do clamor cheio de angússtia e de esperança. É ser a voz dos que não têm voz, isto é, dos que são silenciados por causa da verdade do Evangelho.
Ser  testemunha de Cristo é parilhar, não só os bens, mas também a vida, que é o primeiro dom que Deus nos concedeu. É sentir na própria carne o escândalo do supérfluo em face da miséria. É ser solidário com os sofrimentos e as aspirações do irmão, vizinho, colega, companheiro, parceirto ou namorado, em fim, com todo  aquele que estiver à nossa volta, dando o que é nosso especificamente.
Lembremos que quando estivermos a fazer isso não estaremos sós, será a força do Espírito Santo, aquele que iremos receber no Crisma, que agirá em nós. Ele nos tornará enviados para transformar a realidade em que vivemos, isto é, a testemunhar.
Se não buscarmos vivenciar tudo isso, e muito mais ainda, estaremos a inutilizar a acção do Espírito Santo. Ele passara novamente a ser Deus desconhecido. Por isso será necessário realizar em nós um sério esforço de participação na comunidade e também na sociedade.
      Seja este o lema do cristão crismado, como diz São Paulo:
 Ai de mim se não evangelizar”


[1] Cf. PAULO VI, Const. Divinae Consortium Naturae.
[2] Cf. S. Tomás, Summa Theol. 3, 65, 1.